A Importância do Equinócio de Março na Astrologia, na Alquimia e em Tradições Esotéricas

* Artigo extraído da página oficial da OKRC, no Facebook. Veja o original, navegue pela página, solicite informações sobre a Ordem clicando aqui

Fisicamente falando, os equinócios e solstícios são eventos astronômicos que marcam a mudança das estações do ano. No Solstício de verão, o Sol atinge seu mais elevado ponto no céu, enquanto no solstício de inverno desce ao seu ponto mais baixo. Os equinócios da primavera e do outono marcam os pontos médios no movimento do sol entre os dois solstícios e é nesses pontos do ano que o dia e a noite têm a mesma duração. Cultural e historicamente falando, no entanto, para algumas culturas arcaicas, elas também representavam um mistério mais profundo nessas etapas, relacionando-as às noções de nascimento, crescimento, amadurecimento, morte e, enfim, ressurreição.

Para as tradições astrológicas e alquímicas, herdeiras de sistemas culturais tremendamente antigos, o Sol e o ouro são representados por um ponto dentro de um círculo. Esse símbolo pode ser lido como um olho aberto, representando a Consciência Desperta, como a semelhança entre o micro (ponto) e o macrocosmo (círculo), o “um” e o “todo” num só conjunto, o ponto que tudo contém e de onde tudo emana. O símbolo ou glifo (inscrição) do Sol ainda designa o centro de um sistema onde tudo gira e ainda pode servir de referência para axiomas como “Deus é um círculo [infinito] cujo centro está em toda parte e a circunferência em lugar algum” –  frase atribuída a diferentes pensadores, mas em especial a Santo Agostinho. A ligação do Sol com o ouro se dá, em grande parte pelas propriedades “incorruptíveis”, ou melhor, perenes do ouro diante dos elementos e do tempo: o Sol, diferentemente da Lua, que representa mudanças, entre outros fatores de seu simbolismo, é tido como “imutável”, em sua natureza, assim como o ouro, que não oxida e que sob várias circunstâncias em que outros metais perderiam características e se degradariam, o mesmo continua com sua estrutura atômica inalterada. Sua cor amarela também é passível de associação, por analogia, à tonalidade aparente da luz solar em grande parte do dia. Não bastasse isso, devido às propriedades supracitadas, o ouro, entre os alquimistas passou a ser, metaforicamente, como correspondência do Sol na matéria, a meta de transformação/depuração da consciência, da alma e da vida em algo sublime e superior ao estado de degradação provocado pelo tempo e por uma consciência não-desperta na maioria da Humanidade.

Grande parte das culturas antigas, entre elas a egípcia, a celta e a maia, viam nos movimentos celestes do sol uma reflexão cósmica da jornada espiritual que poderiam realizar na Terra dentro de si. Isso explica por que monumentos, cidades e estilos de vida foram modelados em torno dos solstícios e equinócios e alinhados à jornada do sol pela eclíptica (o caminho percorrido pelo Sol ao longo do ano, perfazendo o zodíaco) e das estrelas (seu aparecimento sazonal, incluindo as constelações não-zodiacais). Essas antigas civilizações baseadas na religião do sol viam a iluminação espiritual como o verdadeiro propósito da vida, e procuravam orientar suas sociedades inteiras para os princípios espirituais que eles viam exibidos acima deles no céu.

Os símbolos solares também são análogos às narrativas de muitas divindades e se encontram por trás da maioria das formas religiosas atuais. Por exemplo, figuras salvadoras do sol-Cristo emergiram uma e outra vez dentro de várias tradições derivadas da antiga religião original/primitiva do sol e estágios chave em suas vidas freqüentemente correspondem a eventos solares. Figuras como Jesus, Mithra, Krishna, Quetzalcoatl, entre outros – freqüentemente compartilham semelhanças. Elas podem estar associadas ao sol, nascidas no solstício de inverno, ensinar e realizar maravilhas, morrer e ressuscitar no equinócio da primavera e ascender aos céus no solstício de verão. O futuro retorno dessas divindades solares é também muitas vezes anunciado, novamente com sua chegada em um solstício de inverno (quando o mundo está mais escuro) trazendo luz ao mundo mais uma vez. As festividades religiosas ocidentais, mesmo as do hemisfério sul obedecem ao simbolismo das estações do ano no hemisfério norte devido, sobretudo, aos processos de colonização, mas ainda assim o significado subjacente à jornada solar pelas estações permanece.

Equinócio de primavera em Stonehenge.

Pode-se afirmar que a sobrevivência desses mitos em diferentes culturas se dá meramente por transferência ou difusão cultural das narrativas, mas do ponto de vista comparativo, o processo simbolizador que realiza essas associações entre heróis salvadores, sua jornada de vida e o Sol, na verdade se dá independentemente de ter havido um contato mais direto entre um grupo social e outro na História. Tais pessoas, tenham elas realmente existido fisicamente ou sejam um amálgama de várias figuras virtuosas numa só narrativa e personagem, funcionam como uma luz para guiar o caminho, uma referência, modelo de consciência desperta e meta a ser atingida.

 

 

Imagem relacionadaO equinócio de 20 de março (primavera para o hemisfério norte e outono para o sul) é o ponto em que, astronomicamente, o Sol inicia sua ascensão pela eclíptica até que atinge seu apogeu no verão, quando chega ao Solstício de 21 de junho. No zodíaco trópico, adotado pela Astrologia Ocidental, esses pontos fundamentais representam, respectivamente, o ingresso do Sol no signo de Áries e de Câncer. O equinócio e solstício seguintes são os de Libra e de Capricórnio, respectivamente. O equinócio de março em essência (mesmo que no hemisfério sul seja a entrada do outono), é marcado simbólica e culturalmente pelo ressurgir da força vital (Sol) em seu signo de exaltação (Áries). É o momento em que a luz retorna ao mundo e em que todos os inícios, em tese, seriam fortalecidos. Aqui se iniciava o calendário agrário e religioso, um atrelado ao outro, tanto no Egito, quanto na Suméria e noutras partes do planeta em que culturas agrárias ou pastoris se utilizavam dos movimentos celestes para garantir a sobrevivência da tribo, comunidade ou cidade-estado hierática. Tal como se percebe no simbolismo do Carneiro, no zodíaco, com seu conjunto de características guerreiras, portadoras do poder da Vontade e o desejo intenso de ação, o equinócio, desde os tempos remotos, é também visto como um período (não só a data precisa do equinócio, mas o decorrer do primeiro mês a partir dele) em que há uma verdadeira luta entre luzes e trevas, com uma vitória final das forças luminosas (vide a

A subdivisão do ano no calendário celta (uma das tradições) com os 8 Sabbats.

ressurreição nas narrativas de diversas tradições, após o herói descer aos infernos).

 

O Áries é também o símbolo do semeador, do fertilizador, tanto no sentido agrário quanto no sexual do termo. É conhecida a predileção das pessoas com ênfases arianas em seus mapas astrológicos por situações, digamos, “polinizadoras”, por um lado na base das conquistas amorosas, por outro lado na base da tendência muito forte a iniciar projetos em grande número. Obviamente essa tendência pode ser mais acentuada nuns e menos noutros, de acordo com as posições dos demais fatores a considerar num mapa astrológico, mas todos os arianos partilham, em algum grau, desse impulso.

 

Imagem cristã representando o Cordeiro de Deus.

Os rituais religiosos modernos e as práticas mágicas, teúrgicas, filosóficas ou pagãs da atualidade, herdeiras e ressignificadoras que são das formas antigas de conexão com os aspectos divinos da natureza, têm em grande parte relações com as mudanças de estação pela via dos equinócios e solstícios. O início desses calendários mágico-religiosos é o símbolo do irromper da vida, do otimismo, entusiasmo, da ultrapassagem do que era antigo, mas sua retomada num nível acima, renovado. No simbolismo judaico-cristão, parte do que o ingresso do Sol nessa fase do ano representa é a crucificação-morte-ressurreição do Salvador, a páscoa cristã, enquanto a páscoa judaica é o grande processo de libertação e despertar, com o êxodo do Egito. O símbolo da páscoa na forma do coelho ou do ovo é também o símbolo do irromper da vida, ao usar um animal cuja prole é numerosa e o ovo universal contendo a vida que irá surgir como símbolo. A noção de que o equinócio é época de renovação/libertação/irrupção da vida é o que mobilizava as sociedades antigas a realizarem rituais purificadores em suas casas e aldeias. Atualmente esses rituais são realizados por muitas sociedades secretas, tanto em atos coletivos em templos, reservados a seus membros, quanto individualmente, com os participantes de tais sociedades praticando suas meditações, orações e atividades sagradas em seus santuários particulares. Em outras palavras, o equinócio da primavera é a melhor época do ano para se concentrar em novos projetos, livrar-se de coisas que não servem mais e encontrar um grau maior de equilíbrio na vida – afinal, falamos de um momento em que dia e noite estão equilibrados, o mesmo valendo para o equinócio de Libra, em setembro, mas ali já com outra abordagem que não o irromper da vida, marcada pelo Áries. De fato, muito mais do que no dia primeiro de janeiro, quando muitas pessoas se auto-comprometem a fazer mudanças e a perseguirem metas, é aqui que, mágica e energeticamente, a natureza inteira conspira para tanto. Em todo equinócio de março semeamos algo. A semeadura do amor, da luz, da boa vontade, da proatividade e do respeito ao próximo pode fazer com que você se surpreenda com os bons retornos que terá ao longo do ano. E se você atuar mágica ou teurgicamente, espere um contato muito virtuoso com os deuses.

Carlos Hollanda – Membro da OKRC

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