Sigillum, Ponto Riscado, Astrologia e os atos de magia

kos05Astrologia não serve só para diagnosticar uma tendência. Ela sempre, desde que saiu das lanças de caça, cavernas e rituais orgiásticos pré-históricos, ou das práticas sacerdotais das cidades-estado hieráticas mesopotâmicas e egípcias, teve papel fundamental nas manipulações das realidades em potencial. A isso se dava o nome de “ato mágico”, coordenando vontade, subjetividade, natureza e suas inclinações para dados momentos.

A Europa herdou isso dos teurgistas e neoplatônicos (não necessariamente um sendo separado dou outro), que por sua vez herdaram dos gregos, babilônicos e caldeus, na forma de desenhos, atos, cânticos e versos escritos, com o intuito de sintonizar e invocar uma força que interferisse no decorrer lógico dos acontecimentos. Chamemos isso do que for, ação do inconsciente, mudança comportamental proposital, ainda que possamos atribuir a coisa a apenas uma manipulação interna com resultados externos, os atos mágicos contribuem para que alteremos nossos campos de experiência. Entre eles, uma ação correspondente (a ferramenta comportamental, algo mais aceito atualmente, devido a seu caráter semelhante ao aconselhamento psicológico) e os selos ou “sigillum”.

xangôAqui no Brasil nós os conhecíamos muito antes de chegarem as literaturas ou os conhecedores das práticas mágicas medievais nas ruas e livrarias. Os praticantes de religiões de origem africana sincretizadas com o imaginário indígena e europeu medieval os conhecem como “pontos riscados”. São as formas gráficas dos orixás ou das entidades que intermedeiam o divino e o humano, passando também pelo mundo dos mortos. Os sigillum são semelhantes tanto em forma quanto em função. Só muda a egrégora ou o nome da força que se invoca ou, ainda, o modo como o praticante descreve aquela força. Eles servem para trazer à visibilidade e à manifestação cotidiana aquilo que está em níveis superiores de imaginação ou, se preferirem, de energia divina. Reza a tradição astrológica, sobretudo em Agrippa, que a eficácia dessa manipulação da realidade potencial é muito maior quando o ato é perpetrado durante as posições astrológicas corretas.

exu

Os pontos riscados são mais flexíveis quanto a esse ponto de vista, já que podem ser, dependendo da linha do religioso ou da falange que segue, eficazes em função do dia da semana e em função da suposta intenção da entidade que virá a se manifestar em conformidade com a intenção dos religiosos. A montagem de um sigillum também pode ser feita desse modo, mas de acordo com o modelo astrológico antigo, medieval e renascentista, deve observar o movimento concreto dos astros, sobretudo o da Lua. Nesse caso, valem os conhecimentos de Astrologia Horária e, mais ainda, Astrologia Eletiva, de forma a compreender as características de um dado momento na natureza e ajustar as intenções conscientes a ele, juntamente com os atos concretos, objetos correspondentes, cores, e a devida atitude mental (algo como combinar Mantras, Yantras e Mudras, em Yoga).

pantaculo01Muito do insucesso das operações mágicas usando talismãs e outros sinais físicos (sigillum e pantáculos, por exemplo) de invocação dessas forças ocorre em especial pela não observância do momento mais apropriado. O uso comum, sem a intenção consciente (“kavannah”, em termos kabbalísticos) e sem um ação material perpetrada no momento adequado não faz, digamos, o “link”. Talvez só uma pequena parte dele, mas não sua potência máxima, que traz resultados visíveis num período de espera que pode variar entre imediatamente e alguns dias. Dependendo do que se quer criar, talvez até alguns anos, até que uma situação completa se instale, mas logo de imediato as predisposições psicológicas e a energia para chegar a tal intento começam a se manifestar mais nitidamente.

O curso da imagem acima prepara o participante desde o início para a produção e potencialização de pantáculos e uso de sigillum com base astrológica. Confira o artigo com os detalhes e a programação clicando aqui.

A Astrologia contemporânea veio perdendo o contato com essas particularidades de sua prática mais antiga, e aqui incluo a Geomancia nesse bojo. Acrescentou o valiosíssimo prisma da Psicologia durante o século XX. Sem ele nos tornaríamos capengas em linguagem e em compreensão do que os símbolos representam em nossa psique e como nos comportamos. No entanto, a exclusiva atenção a esse modelo e a outras formas tidas como mais próximas de paradigmas científicos vigentes retirou da Astrologia uma das melhores coisas que ela continha em seu arcabouço, que é a percepção pré-moderna da Magia. Algo que nossos avós e bisavós ainda conheciam bem, com as roupagens das Simpatias, mas que sem o suporte astrológico das tendências naturais de um dado momento, nem sempre funcionavam com total intensidade. As Simpatias, aliás, eram atos que em sua maioria independiam de momentos calculados, mas se fossem feitas sob luas apropriadas o efeito era muito mais notável. Há uma outra forma de aplicação da simbólica astrológica que não está totalmente atrelada, embora devesse considerar isso, aos movimentos reais dos corpos celestes. Esta se refere aos dias da semana e horários planetários. A Astrologia horária, tão repleta de recursos técnicos para investigar o desenvolvimento de uma questão ou ação, também utilizava esse recurso pautado no irracional ou, se preferir, no inconsciente, nas egrégoras formadas pelos sistemas de crença populares ou, ainda, na atribuição imaginária, porém não menos real, da governança de um dia e uma hora a planetas específicos e suas naturezas. Algo que os cultos afro-brasileiros conhecem bem e que os astrólogos ultimamente vêm retomando, sobretudo aqueles que voltam seus olhos ao passado, cavocando e trazendo à tona o tesouro de saberes tidos como inúteis por mais de um século.

Carlos Hollanda – final de outono, quinta-feira, 11 de junho de 2015 – Rio de Janeiro.
(artigo iniciado no dia de Júpiter, na hora de Júpiter e terminado na hora de Júpiter – 13h.33min., com Júpiter em Leão, sob um trígono da Lua em Áries e brincando com seu gatinho levado)

4 comentários em “Sigillum, Ponto Riscado, Astrologia e os atos de magia

Deixar mensagem para nando guimarães Cancelar resposta